A vida corporativa é desafiadora — e ainda mais para uma mulher que está chegando aos trinta anos.
É nessa fase que o relógio biológico começa a falar mais alto e a gente passa a considerar mudanças grandes, daquelas que viram a vida de cabeça para baixo.
Coincidentemente (ou não), foi mais ou menos nessa idade que eu fui demitida pela primeira vez, saindo de um cargo sênior que ocupava em uma pequena startup em fase inicial.
No ano anterior eu tinha deixado um emprego seguro, com ótimas perspectivas, para apostar no que, na época, parecia ser uma oportunidade única: entrar para um time promissor de uma fintech ainda pré-operacional. Como ainda tinha pouco a perder (sem grandes dívidas e sem filhos para sustentar), resolvi arriscar — buscando a experiência mas sabendo dos riscos.
E os riscos se confirmaram: cerca de um ano depois, fui desligada por um desalinhamento entre o que a empresa precisava naquele momento e o que eu podia entregar na posição em que estava. Depois de um ou dois dias de choque, minha agenda logo se encheu de entrevistas. Chegou a um ponto em que eu estava em 10 processos seletivos ao mesmo tempo. Três semanas depois eu tinha três propostas em mãos, de três empresas de tecnologia diferentes. Escolhi não a que me oferecia o melhor salário, mas onde sentia que minhas habilidades realmente se encaixavam com as necessidades da empresa — e essa acabou sendo a melhor decisão de carreira que já tomei.
Eu amava o novo trabalho: era fã do time — dos meus liderados, colegas e líderes. Me sentia muito alinhada com os objetivos da empresa e com a maneira como todos trabalhavam. Hoje, mais de três anos depois, posso dizer que fiz ali um dos melhores trabalhos da minha vida.
Mas o trauma da demissão ainda ficou guardado dentro de mim por um tempo. Poucos meses depois de começar nesse novo emprego, eu — que recém tinha começado a tentar engravidar — achei que estivesse grávida. O que deveria ser uma ótima notícia acabou gerando uma avalanche de pensamentos assustadores: com poucas mulheres ao meu redor e acima de mim, e com o mercado de tech no mundo inteiro vivendo um momento complicado em 2022, comecei a temer que uma gravidez pudesse colocar meu emprego e minha estabilidade financeira em risco. Ficar afastada durante a licença-maternidade significaria ver meus colegas homens continuando a crescer, enquanto eu “ficava para trás”. Nessas condições, se houvesse um layoff, eu temia ser um dos primeiros nomes na lista.
Ansiosos entenderão: depois de três dias sem dormir, com a cabeça a mil e uma sensação de sufocamento, acabei no hospital. Era uma crise de pânico.
Foi ali que decidi que minha mente precisava receber o mesmo cuidado que sempre dei ao meu corpo: comecei sessões semanais de terapia e exercícios mentais. E o mais curioso é que, mesmo com a mente frágil, foi nesse momento que encontrei dentro de mim a força para criar algo que fosse verdadeiramente meu.
Sempre fui muito dedicada a tudo o que faço. Dou 100% de mim e sempre busco ser a melhor. E, em meio a esses momentos difíceis de 2022, decidi que queria recuperar o controle: meu esforço não seria mais só para construir o legado de outras pessoas. A escolha de onde eu colocaria minha capacidade intelectual não dependeria mais das vontades dos gigantes de tecnologia e das grandes corporações.
Somando isso a uma vontade enorme de voltar a ter um canal para depositar minha energia criativa (algo que tinha ficado para trás entre calculadoras científicas e algoritmos de machine learning) e ao conhecimento que eu já tinha de uma necessidade real de mercado — mochilas funcionais e elegantes para mulheres que querem brilhar na carreira — nasceu a Avia.
Com um diploma em Engenharia Civil e um mestrado em Matemática Aplicada, fui para o centro de São Paulo com apenas uma ideia e nenhum contato. Uma amiga querida, que já tinha sua marca de roupas, me levou a uma rua onde ela sabia que vendiam couro legítimo. Fomos batendo de porta em porta perguntando se alguém conhecia quem pudesse fazer algumas amostras de bolsas para uma marca nova (mal sabiam eles que a marca ainda nem tinha nome, haha).
Essa primeira visita não trouxe muitos contatos, mas me deu coragem para tentar de novo. Voltei lá alguns dias depois, dessa vez com minha mãe. Levei comigo uma bolsa de couro antiga que tinha comprado anos atrás nos Estados Unidos. E, em uma das lojas, um senhor parou a gente para perguntar se eu mesma tinha feito aquela bolsa. Respondi: "Essa eu não fiz, mas estou procurando alguém que possa me ajudar a fazer bolsas para a minha nova marca. Você, por acaso, conhece alguém?"
E como Deus tem seus caminhos, aquele homem dirigia um importante ateliê de couro em São Paulo, que produzia bolsas para grandes marcas nacionais. Foi lá que fizemos o primeiro teste — mas o resto da história da Ambra eu vou deixar para outro post (tem que ter um motivo para você voltar aqui, né?).
2 Coríntios 4:7 fala sobre tesouros escondidos em vasos de barro. Esses vasos se quebram e se racham, mas é justamente isso que permite que a riqueza que existe dentro deles se revele para os outros. A mente pode ser frágil, e às vezes o corpo também, mas o espírito dentro de nós é forte — e carrega um tesouro que só a nossa vulnerabilidade permite aos outros enxergar.
Hoje, quero te encorajar a não ver a sua fraqueza como um impedimento, mas como uma oportunidade para que Deus mostre, através dela, o tesouro que existe dentro de você.
No mês que vem volto para contar mais sobre a história da Ambra!